domingo, 5 de dezembro de 2010

É o jeito

Bem, o que posso dizer?
Você disse que esse era o jeito,
Esse era o caminho,
você disse, meu irmão.
Uma novidade, mais um doce,
o cavaleiro se reconhece
quando encontra o dragão

domingo, 14 de novembro de 2010

Seguindo a Canção

Se eu pudesse trapacear,
tudo seria mais fácil
Mas me colocaram em um jogo
E nunca explicaram as regras
E nisso eu faço papel de bobo
pintando saltos e passos de dança
Num véu de vazio e trevas

Se houvesse uma estrada
e eu a tivesse de atravessar,
tudo faria mais sentido.
Eu pintaria uma faixa de segurança
num asfalto colorido
com cores quentes e frias
Uma estrada entre campos floridos
com flores e grama macia

E um dia eu percebo
Que já estou do lado certo
Indo rumo ao mistério
Eu tenho alguém por perto
E assim, andando de mãos dadas
O aqui parece boa idéia.
Seguimos chutando as pedrinhas
pela longa beira da estrada

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Toque, o Tato, as Gotas de Chuva Humana

Desfizeram a paisagem
De tanta foto do mesmo lugar
E nem a onda é novidade
Pra quem nunca viu o mar

Nosso presente corre de lado
Como gotas de chuva humana
Voa idéia, voa recado
Voa imagem transmitida
Mas para o tato não há saída

Asas de aço, obras de deus
Ainda vão achar a cura
Pra distância, para o toque
No metal que a mão segura

Mas o poema será lenda
E um gráfico expressará o amor
E uma estátua de ferro e cimento
O homem vai chamar de flor

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Véu

Vim e vou,
Fui e sou:
Divisão ou proteção
Pálpebra para a retina,
Salvadora e velha cortina,
estendida em frente ao palco
Pintura na parede sem cor,
Eu refugio a cada ator
Salvação e maldição
Vim e vou,
Fim eu sou.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Teses

É por a mais b
que alguma gente precisa de provas
pra aquilo que toda gente vê.

Os sujeitos da escola
tem folhinhas e fórmulas
e calculam de tudo;
da cor da grama
a redondez da bola.

Eles mostram muitas amostras,
testes técnicos
e teses expostas
provando que o velho canto dos sabiás,
que já deixou de existir,
era coisa deles mesmos
e era bonito de ouvir!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Jacó foi para a selva

Jacó recebeu uma missão,
um grande trabalho para o qual foi contratado
Cabisbaixo ele pegou um avião,
voou até a selva para a qual foi enviado

Lá chegando, se sentiu meio perdido
entre tantas luzes, tanta gente, tantas cores,
todas elas de um cinza esmaecido;

Jacó foi para a selva, conheceu outra vida
mas sentiu-se preso, deslocado
estava sozinho em terra de pedra polida

Tanta gente em roupas bonitas,
disfarçadas, fugitivas de si mesmas
tanta gente em rotas já escritas,
condenadas, prisioneiras como lesmas
num labirinto de sal,
como presas de cães de caça
caçando no jardim,
como o pregador de esquina,
esperando pelo fim.

Caminho dos Cegos

Sentado atrás da porta, um velho observa.
O futuro é uma eterna ameaça...
Ao som das trombetas, a verdade cairá no esquecimento
As correntes da vida pausarão por um momento.

Não conheceu a dor, nem a tristeza
Viveu antes de inventarem a morte
Por isso mesmo sentiu-se perdido
Pois quando não há fim, não há nenhum sentido.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pássaro sábio, onde vais?

Tu que voa, vê o vento
vai e volta, vive solto
Que me conta lá do alto?
Lá dos mundos que eu invento?

O que a gente inventa
vale mais do que o que a gente viu,
o novo, o fresco,
o que causa arrepio
O que a gente inventa
vale mais do que o que a gente viu

Tu que vê o que eu sonhei,
aqui me olha, tão calado,
te arrependeu, lá em cima,
por enfim ter voado?

O que a gente inventa
vale mais do que o que a gente viu
O que a gente inventa
vale mais do que o que a gente viu

Ah, tanta coisa eu contaria,
sobre as histórias lá do céu,
mas tu, aqui, só repete
que a graça acabaria
E que o que a gente inventa
vale mais do que o que a gente viu
O que a gente inventa
vale mais do que o que a gente viu

Pássaro sábio, me conta
que a gente, quando se encontra,
perde o pouco que tinha,
quando o sonho vira real,
deixa de ser sonhado
e se torna sonho acabado.

sábado, 21 de agosto de 2010

Um susto

Perde-se um som, sem dono, roubado;
Que voa, vadio, com o vento que chora ali fora.
Um grito, suspiro, canto abafado,
vai e volta, levando silêncio embora.

Os homens, de pé, temeram contradizer um iludido.
Assustados, pequeninos não tiveram coragem.
Agora voa o agudo chamado gemido,
doce pétala de metal, mariposa selvagem,
pra de onde nem deveria ter saído.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Deep Inside

As mão dadas
são nossas asas
são nossas casas,
nossas escadas
para um céu de alucinações,
sonhos, sorrisos,
velhas virtudes,
e doces visões

Subindo, subindo,
por todos os lados,
nós não vamos parar por aqui,
Ainda há mundos a descobrir,
nós não vamos parar por aqui,
com tantos olhares que nunca vi,
não podemos parar por aqui.

A mente solta num salto
me leva lá longe,
me manda de volta,
me esconde, me solta
E longe de tudo, eu revejo
a doce história,
que sempre me conto,
de um lindo sorriso,
que um dia encontro,
que me leva pro lugar
onde os sonhos são feitos,
e o chão sobre mim são as nuvens,
são o meu caminho perfeito,
são as nossas mãos dadas,
são as nossas asas,
as nossas asas amadas
as luzes do nosso pensar...
e o depois, não importa.
Por que se preocupar em ir,
quando se acabou de chegar?

sábado, 3 de julho de 2010

Três

Dois caminhos, duas pernas;
Duas idéias, duas vontades;
Uma escolha, uma decisão

Dois pontos de vista,
duas pessoas, duas idades,
dois desejos, uma só opção

Dois corpos, duas formas,
duas diferentes batidas
para um só coração.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Conversa doida(doída)

Desculpa o tom de voz,
é que meus ouvidos são ruins.
Desculpa a escuridão,
é que meus olhos não sabem ver pra dentro.
Desculpa a solidão,
é que eu não sabia acabar essa rima.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Uns olhares

Olhando pra trás,
pro povo de roupa colorida,
cabelo comprido
estamos vendo como tudo era diferente
mente aberta,
gente esperta, olhando em frente,
buscando a beleza do pensamento livre,
vida bela lá adiante.

E nós aqui, olhando pra trás,
vendo belos seus amores,
sonhando com tempos que não voltam;
Como as flores,
que caem do cabelo

Mas mirando uns aos outros,
nossos olhares não se cruzam.
Vemos o que deixamos as nossas costas,
somos nossas próprias respostas,
pois entre nós há um espelho.

sábado, 22 de maio de 2010

Pôr-do-só

Como no fim do dia ensolarado,
longo, belo
Quando alguém percebe ter ninguém a seu lado,
longe, esquecido

Mas e de quem são as pegadas,
então?

Como no fim do dia ensolarado,
do topo do morro até o meio do céu,
o laranja vai deixando o azul,
ficando pra trás,
e lá no alto é só ele que resta
o azul e os pingos brancos
E aí se percebe sozinho
E aí vem a escuridão.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Contra-quem?

Ontem eu cheguei na sala,
Na hora que o mundo se cala.
E havia um robô lá sentado,
com seu carregador de asneiras ligado

E o que ele quis dizer,
fazendo beep beep pra mim,
foi que eu tô muito errado,
que tô ficando mal falado,
e que não dá mais assim

Então entendi, pra meu espanto,
que as pessoas se preocupam tanto
com meu cabelo comprido
mas nada com o que eu tenho sentido.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Herói

Se o braço forte se cansa,
E a perna teme a andança,
Quem seria atrevido
De declarar-se nunca vencido?

Quem iria imaginar
Que por trás de olhar tão seguro
O heróico cavaleiro da luz
Treme e teme o escuro?

O elmo ornamentado
do guerreiro sorridente
Quando acaba por ser virado,
é uma triste lua crescente.

Mas não se deve temer, agora.
Ainda de pé, está o escudeiro.
Forte da mente, de dentro pra fora,
ajudará a erguer o triste cavaleiro.
E quando as nuvens negras forem embora,
e o alegre alegrar se refizer inteiro
poucos terão lido este curto trecho
mas quem souber sorrir viverá o desfecho.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Passos(valsa)

As garotas vêm e voam,
nas asas de suas vestes.
Se pintam de feias, caricaturas
Carregam espelhos, carmas, pinturas.

E no alto de seus saltos,
muitos pisam o salão.
Os seus pares são a noite,
são levados pela mão
Nos ternos, nos sorrisos em conjunto
Se vê a solidão
E o riso abafa a consciência,
dançarinos, brilham expostos
a duvida de sua existência...

Dancem, dancem,
a valsa dos passos perdidos
dancem os seus rituais
aos pecados já esquecidos
Dancem, dancem,
a valsa dos passos perdidos
Dance quem apedrejou
A glória dos anjos caídos

Mas pra onde irá a memória,
de uma noite sem final?
E quem contará uma história
De que ninguém participou?
O que se fez, ou se foi
Não se sabe onde ficou
Ninguém verá a beleza
Do rosto que se mostrou.

Quando não houverem mais olhos
e as imagens continuarem lá
Fotografias sem mais razão,
Quadros em branco para emoldurar

Dancem, dancem,
a valsa dos passos perdidos
dancem aos seus ideais,
assombrados, sem mais sentido
Dancem, dancem,
a valsa dos passos perdidos
Dance quem nunca escutou
A história dos deuses fugidos

sábado, 10 de abril de 2010

Fuga

Por onde passei olho a calçada...
e percebo: na poeira, não há pegadas!
Será que meu caminho foi uma ilusão
ou meus pés que não tocaram o chão?

Pra onde vou, enquanto não sei quem sou?
E tonto que estou, ainda por cima,
eu, que esperava me salvar em uma rima,
preso numa sela ensolarada,
me sinto em fuga alucinada,
tentando fugir de um medo que não veio,
agora entendo - não há escolha,
quando se começa no meio.

domingo, 21 de março de 2010

Depois

Agora que não há mais opção,
já que foi feito máquina
o que era coração,
pra fazer o mundo girar é preciso apelar
pro fogo, pra fagulha, pra fortuna

E por a idéia estar presa a uma só cor,
agora já não posso montar um beija-flor.
A leveza da certeza se foi por rancor,
O peso da consciência pesa mais que meu amor;

Eu podia subir numa árvore de estrelas
e me ver cair, de trás pra frente.
Sendo leve como suas folhas,
eu podia ver o que a gente sente.
E sentir.

sábado, 6 de março de 2010

Canto

Eu sento no chão, não preciso cadeira
Canto, de canto, a terra inteira
As flores, o fauno, o falso e o falante
São idéias na mente, livros na estante

E a dúvida do dono, do doente
É a certeza do cego, o que sente:
"Pra onde vai, quem não cai
quem não sai de cima de si?"
Eu caí!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Essência

No mesmo plano, de novo eu sigo
Revi as pegadas: sinais de perigo
Sem pressa, ando e aprendo enfim;
Importa o caminho, não o fim.

O castelo sonhado se fez em destroços,
Agora eu planto flores num jardim de ossos

[parte de um grande projeto]